quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Alimentação e Qualidade de Vida pela Psicóloga Mariangela Venas

O texto abaixo é de autoria da querida amiga e psicóloga Mariangela Venas e impressiona por ser um tema atual, com uma necessidade de discussão nas diversas camadas da sociedade.
Abro espaço no blog para refletir sobre o tema.

SEU FILHO TEM FOME DE QUE?

Alimentação & Qualidade de Vida

Nos meus tempos de primário, hoje o equivalente ao ensino fundamental, não me lembro de muitas crianças gordinhas, as poucas eram vítimas da crueldade infantil e os pais logo se ocupavam de colocá-las em alguma atividade física, para que seus filhos não fossem vítimas de chacotas. Além disso, brincávamos muito de polícia e ladrão (não, não era politicamente correto, mas corríamos muito e isso fazia uma grande diferença!), tinha o pique-pega e a peteca - nossa amiga inseparável. Com isso, de maneira geral, éramos todos magros, uns mais outros menos...

Aos treze anos não pensávamos em dietas e referências calóricas, comíamos com vontade e disposição alimentos variados. Éramos apenas crianças ou adolescentes, preocupados com notas de provas, com gincanas nos colégios, com as primeiras paixonites... enfim, levávamos a vida de forma mais simples. Até que apareceram os avanços tecnológicos, as mudanças nas estruturas familiares, uma série de inovações boas na essência, mas que se tornaram ruins pela prática abusiva e irrefletida. O tempo, melhor dizendo, a falta de tempo virou argumento para tudo: Nada mais de sucos naturais, o mundo agora é prático, é alta tecnologia: Sucos artificiais invadiram a infância. Preparar uma saladinha, um refogadinho de legumes - quem se lembra dos deliciosos refogadinhos da vovó?? Sem chance, não temos tempo! Vamos comer uma pizza e pronto.

As mulheres foram para o mercado de trabalho. Ponto para as mulheres, já era hora de mostrar capacidades e habilidades encobertas pelo lavar, passar e arrumar a casa. Mas algo ficou desarrumado nesta nova ordem. Não há tempo para cuidar de crianças, de nutrir crianças, nutrir no sentido amplo, nutrir com alimentos saudáveis e nutrir de afeto, apoio, sensação de segurança. Enfim, é preciso ter tempo para ter crianças. Esta é a contradição maior dos tempos modernos. Os filhos acabam vindo por uma pressão biológica, por uma pressão social, até por um desejo real e legítimo, mas quando nascem, algumas vezes, se percebe – tardiamente – que eles não se encaixam na agenda... e fica tão complicado cuidar...Leonardo Boff, em seu livro Saber Cuidar (1999), diz: “Alimentamos a profunda convicção de que o cuidado, pelo fato de ser essencial, não pode ser suprimido nem descartado. Ele se vinga e irrompe sempre em algumas brechas da vida. Se assim não fosse, repetimos, não seria essencial.”

Com ausência da figura de autoridade nas famílias e com a presença de tantos artifícios para adoçar a vida, as crianças e os adolescentes comem de tudo em uma ânsia de suprir carências de vitaminas e de afeto. Comem de tudo, e muito!

Como compatibilizar uma intensa vida profissional, com as necessidades dos nossos filhos? Creio que já temos plena noção do engodo do “Não importa quanto tempo destinamos aos nossos filhos, importa a qualidade do tempo”. Sejamos honestos: filhos precisam de tempo e muito tempo! Não apregôo o retorno de mães devotadas exclusivamente ao lar, mas lanço a questão: Nossos filhos têm fome de que?!

e-mail: mvenas@gmail.com

3 comentários:

Guiomar disse...

Muito consciente e apropriado ao momento atual.Vale dizer que talvez nossas supostas "necessidades" materiais tenham que ser urgentemente revistas e o conceito de qualidade de vida muito mais. Enfatizando o SER e não o ter.
Parabéns
Guiomar Castelo

Anônimo disse...

Maravilhoso.
Bjs.
Beto

Unknown disse...

Severino Moreira (smneto170@gmail.com)

Essa vida tão agitada e corrida muitas vezes não permite que o pai/mãe atuem junto aos seus filhos. O que fazer? Não ter filhos? Procurar um trabalho menos exigente?