sexta-feira, 24 de junho de 2011

Diferenças culturais e valores profissionais

Operários — 1933
óleo/tela 150 X 205cm,
"Tarsila do Amaral -1933"Col. do Gov. do Estado de São Paulo
Fonte da imagem: www.paineldosaber.com.br

A matéria abaixo foi retirada na íntegra do Canal RH
www.canalrh.com.br

Aspectos culturais determinam valores profissionais
quarta-feira, 8 de junho de 2011
por Daniela Lessa

A forma como cada profissional encara aspectos da carreira guarda relação direta com a cultura e com a sociedade nas quais ele está inserido. Assim, brasileiros são mais preocupados com a carreira do que europeus, que priorizam a qualidade de vida. Os brasileiros também estão entre os poucos que consideram o crescimento profissional e maiores responsabilidades como motivadores para a mudança de emprego, mesmo com igual remuneração. As conclusões são da pesquisa sobre mercado de trabalho elaborada pela consultoria Robert Half, que ouviu executivos do Brasil, Áustria, Bélgica, República Checa, Dubai, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Suíça e Holanda.

O diretor da Robert Half para a América Latina, Ricardo Bevilacqua, ressalta que algumas características dos brasileiros em relação à carreira se assemelham mais aos povos asiáticos do que aos europeus. Para 34% dos brasileiros e 37% dos profissionais de Dubai, por exemplo, assumir responsabilidades e ter melhores condições para o desenvolvimento da carreira são motivadores para a troca de emprego, considerando a mesma remuneração e o mesmo pacote de benefícios. Os percentuais dos dois países ficaram bem acima da média mundial, que foi de 24%. Países como Áustria, República Checa, Suíça e Holanda ostentaram índice ainda mais baixo: apenas 20% dos entrevistados disseram que mudariam de emprego em troca de condições de aprimoramento profissional e maiores responsabilidades.
A busca por qualidade de vida justificaria a mudança de emprego para 37% dos entrevistados na média de todos os países pesquisados. No Brasil, esse aspecto é importante para 32% dos entrevistados. Em Dubai, a relevância cai para 11%. Naquele país, os profissionais consideram a reputação da marca da empresa como o segundo atrativo para a troca de emprego, com 27% de preferência.

Nos países europeus, por outro lado, a perspectiva de qualidade de vida afeta a decisão de mais de 40% dos entrevistados na maioria dos países: França (44%), Bélgica, Holanda e Itália (42%), República Checa (41%) e Suíça (40%). A qualidade de vida influenciaria menos a decisão de austríacos (39%), luxemburgueses (33%) e alemães (26%).

Diferenças culturais

O CEO global do Great Place to Work, José Tolovi Jr., entende que o resultado da pesquisa confirma uma diferença cultural que pode ser percebida em uma simples visita a empresas brasileiras e europeias. “Para os europeus, o trabalho é um mal necessário, pois o lazer é que realmente motiva o ser humano. No Brasil e em outros países da América Latina, assim como nos Estados Unidos, existe uma maior valorização do esforço para se superar crises ou para se obter sucesso na vida e na carreira”, observa. Ele faz questão de ressaltar, porém, que essa é uma tendência cultural e não uma regra aplicável a 100% nem dos brasileiros, nem dos europeus.
Tolovi comenta que as diferenças no comportamento profissional também são afetadas por contingências econômicas, históricas e sociais mais amplas. Ele observa que, no Brasil, por exemplo, é possível ascender socialmente por meio do trabalho, enquanto, na Europa, as classes sociais são mais estáveis, com poucas diferenças salariais, o que desestimula o esforço extra. Além disso, o europeu, de modo geral, quer ganhar o justo para viver dentro de seus referenciais sociais e aproveitar ao máximo a vida, enquanto outros países acreditam que o esforço pode resultar em melhoria de vida. “É basicamente uma questão de ambição e nós, das Américas, somos muito mais ambiciosos do que os profissionais da Europa”. No Japão, por outro lado, há uma espécie de ambição coletiva. Tolovi informa que lá, “trabalha-se muito, e duro, porque o país e a empresa, nessa ordem, são mais importantes que a família”.

Para o consultor científico do Instituto Qualidade de Vida, Artur Zular, a diferença da relação entre carreira e qualidade de vida para europeus e brasileiros tem raízes culturais relacionadas com a maturidade histórica dos países e com a percepção de futuro. “O Brasil é um país jovem e imaturo, no qual as pessoas chegam ao mercado de trabalho muito cedo e com uma ansiedade pelo crescimento, a ponto de colocar a carreira muito acima da qualidade de vida e até da própria saúde”.

Zular acredita que isso advém de uma sensação de insegurança em relação ao futuro. “Os brasileiros só começaram a acreditar agora que têm um futuro. Antigamente, as pessoas morriam trabalhando”, lembra. Na Europa, por sua vez, o padrão cultural é mais consolidado e os indivíduos pensam no bem-estar biopsicossocial no presente e no futuro. Por isso exigem mais qualidade de vida agora, visando garantir sua manutenção por mais tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

o que não fica claro é o que é a "qualidade de vida" citada na matéria.
no geral acredito que os brasileiros não tem a percepção do que seja isto.

"a competitividade é ausência de compaixão. Tem a guerra como norma, e
privilegia sempre os mais fortes em detrimento dos mais fracos"
Milton Santos.