sexta-feira, 18 de março de 2011

Entrevista com DANIEL CADILHE - Ciência, Educação e Espiritualidade


Sabe uma pessoa que a gente gosta e quer ficar ouvindo durante horas? Assim é o Daniel. Tem uma super facilidade na oratória e na escutatória (parafraseando o Rubens Alves), ele é Educador de Jovens, Orador, Tutor de Educação à Distância, além de doutorando em Ciências Morfológicas.

Apresento Daniel Veloso Cadilhe, 29 anos. Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Fluminense (UFF) que fica em Niterói, RJ. Possui Mestrado em Neuroimunologia pela mesma universidade e atualmente concluindo o Doutorado em Ciências Morfológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Como foi que a Biologia surgiu na sua vida?

Em 1998, durante o 3º ano do ensino médio, eu tinha certeza que meu caminho era fazer algum curso da área de saúde, mas não sabia qual. Até três meses antes do vestibular pensava em fazer fisioterapia, mas neste momento conversei com meu professor de Biologia e ele disse que eu tinha perfil de pesquisador e sugeriu um curso que só existia na UFRJ chamado Microbiologia e Imunologia. Sendo assim, prestei vestibular para o referido curso, mas não passei. No ano seguinte optei pelo curso de Ciências Biológicas por ter uma área de trabalho mais ampla. Inicialmente passei para o curso de Licenciatura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde cursei um período, mas ao saber que fui reclassificado para a UFF, decidi mudar de universidade, pois queria trabalhar com pesquisa. Lá cursei minha graduação(Licenciatura em Portugal) e Mestrado. Me encantava a possibilidade de poder pesquisar algo que pudesse, de alguma forma, mudar a vida das pessoas.

Pode nos falar um pouco da profissão de Biólogo, seus ramos de atuação?

Como o seu próprio nome diz, a Biologia trata do estudo da vida (bio = vida ; logos = estudo). Então, tudo que é vivo faz parte do campo de estudo da Biologia. Muita gente tem uma concepção equivocada acerca do trabalho de um biólogo, pois a maioria das pessoas pensa que se restringe ao estudo dos animais (Zoologia) e das plantas (Botânica), mas o biólogo pode atuar no estudo da vida marinha (Biologia Marinha), do meio ambiente (Ecologia), mas também da Biologia Celular e Molecular, estudo do sistema nervoso e da fisiologia de todo o organismo. Antigamente, os profissionais de pesquisa eram todos médicos, mas na atualidade o perfil do pesquisador mudou completamente. A maioria dos pesquisadores no mundo são biólogos ou biomédicos (área do conhecimento que surgiu como um ramo da Biologia, assim como a Odontologia e a Fisioterapia faziam parte do curso de Medicina). Só no laboratório onde trabalho, dos 25 profissionais que fazem parte da equipe, 20 são biólogos ou biomédicos e nossa área de atuação é bem diversa do que se pensa para um biólogo normalmente, pois trabalhamos em pesquisa com células-tronco embrionárias, tentando viabilizar novos tratamentos para doenças até o momento sem cura.

Como a profissão de Biólogo acompanha a evolução do mundo?

Atuando em pesquisa na área de saúde, o biólogo ajuda no desenvolvimento de novos medicamentos e terapias. Além disso, hoje em dia só se fala de aquecimento global e das possíveis consequências. Entre os profissionais envolvidos na descrição do fenômeno, nas medições sobre o aumento do degelo ou do nível dos mares, muitos deles são biólogos. E são eles também que ajudam a traçar estratégias para minimizar ou evitar que as previsões de desastres naturais derivados deste fenômeno se cumpram. No entanto, hoje em dia há muita interseção entre as atividades de biólogos, biomédicos ou engenheiros ambientais, oceanógrafos etc.

O que é o Projeto LaNCE, no qual você está inserido sobre células-tronco embrionárias?

O LaNCE é o Laboratório Nacional de Células-tronco Embrionárias que está localizado no Hospital Universitário da UFRJ e na Universidade de São Paulo(USP). Ele faz parte uma rede de laboratórios chamada Rede Nacional de Terapia Celular (RNTC) que é uma iniciativa do governo federal para potencializar a pesquisa com células-tronco no país. O objetivo do nosso laboratório especificamente é catalisar a pesquisa e desenvolvimento com células-tronco embrionárias e de pluripotência induzida no Brasil. Dentro disso, tem o papel de fornecer células em larga escala para outros laboratórios e treinamento aos pesquisadores.

Outro papel que procuramos desempenhar é o de estreitar os laços com a população. Temos uma parte do site dedicada a esclarecer o público sobre o que são as células-tronco, quais seus tipos etc. E temos também um canal de comunicação direto, onde as pessoas podem esclarecer suas dúvidas sobre o assunto e os pacientes podem obter informações sobre possíveis tratamentos no Brasil e no mundo. Embora nós não façamos testes clínicos, ajudamos os pacientes a encontrar onde existe e verificar se o teste é adequado ao seu caso.

Para conhecer o nosso site, visite: http://www.lance-ufrj.org

O site da Rede Nacional de Terapia Celular é: http://www.rntc.org.br/

O LaNCE e a RNTC também estão no Twitter e são administrados por mim. Lá divulgo novidades a respeito das pesquisas com células-tronco. Procurem por @LaNCE_UFRJ e @celtroncoRNTC.

Nos conte sobre o Projeto de Educação à Distância, como é sua atuação?

A Educação à distância surgiu na minha vida através de um convite do meu melhor amigo. Ele já atuava em um curso de pós-graduação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) em Educação Especial em Deficiência Mental. Fiz o processo seletivo e comecei a atuar como tutor e, posteriormente, como coordenador de uma das disciplinas. O curso atende principalmente professoras do ensino fundamental e médio e tem como objetivo ajudá-las a entender melhor o desenvolvimento de crianças deficientes e a lidar com elas.

O que pode nos falar sobre Educação Especial? Como é sua atuação.

Como disse acima, atuo principalmente como tutor. A maioria das nossas alunas trabalha em mais de uma escola, em turnos diferentes e ainda possui marido e filhos para cuidar, ou seja, uma vida muito corrida. O curso à distância permite que elas possam melhorar sua formação através de uma boa universidade e sem sair de casa.

Mas nem tudo são flores em um curso à distância, pois você não tem os colegas para dar incentivo nos momentos difíceis e nem o professor por perto.

Por conta disso, procuro dar o máximo de apoio às alunas tentando diminuir a distância. Ligo para elas quando desaparecem e, por muitas vezes, consegui resgatar alunas que estavam a ponto de desistir do curso devido às dificuldades e ao desânimo que vinha em seguida. Procuro estabelecer um laço de amizade com as alunas de forma que elas se sintam mais à vontade e fazê-las pensar no curso e no seu papel como educadoras.

Há quanto tempo trabalha com a Educação de jovens e como este trabalho está relacionado com sua profissão?

Lá se vão 13 anos. Trabalhei com crianças de 03 a 12 anos de agosto de 1997 até o final de 2008 e trabalho com jovens de 15 a 25 anos desde 2007. Estas atividades e a minha profissão tem uma relação bem íntima, pois todas contribuíram para a pessoa e o profissional que sou hoje. Comecei com 16 anos e isso me ajudou muito a me soltar mais, a falar em público, a saber a melhor forma de dar uma aula e a adaptá-la a diferentes públicos e, principalmente, a lidar com o público infantil. Da mesma forma, a minha profissão me permitiu trabalhar com as crianças e jovens conteúdos diversificados e a trazer uma visão mais científica para as discussões.

Gostaria que comentasse a frase "É pela educação mais do que pela instrução que se transformará a humanidade"(A. Kardec).

Essa frase de Kardec retrata tudo que penso acerca da educação. Gosto muito também das palavras de Augustin Cochin em que diferencia a instrução da educação: "A instrução é mais especialmente a aprendizagem da ciência, a educação é a aprendizagem da vida; a instrução desenvolve e enriquece a inteligência, a educação dirige e fortifica o coração; a instrução forma o talento; a educação, o caráter. A missão da educação é mais elevada, mais difícil a sua arte".

Costumo dizer às minhas alunas que ser professor é muito fácil, pois o professor tem o papel apenas de instruir, de passar conhecimento. Difícil mesmo é ser educador, pois este tem um papel mais nobre e amplo. O professor espera que a criança alcance a sua forma de pensar, que seja capaz de abstrair como um adulto. O Educador age da forma inversa, pois procura adequar-se ao aluno, procura entrar no universo da criança, falar na sua linguagem, tornar o assunto atrativo e aproveitar os talentos que o aluno tem. O professor vê uma sala com 40 alunos, o Educador vê cada aluno individualmente, suas dificuldades e suas potencialidades.

Ken Robinson (autor e orador em educação) diz que "Se você não está preparado para errar, nunca vai ter uma ideia original”. Nossas escolas estão repletas de professores que destroem a criatividade da criança dizendo que ela precisa decorar informações e que não pode errar, e estão carentes de Educadores que percebam que a maioria das crianças diagnosticadas com TDA (transtorno do déficit de atenção) ou com hiperatividade são apenas crianças com grande potencial criativo e que precisam de um sistema de ensino mais aberto e que lhes dê opções. Ensinamos da mesma forma arcaica há séculos (!), só que hoje as crianças são muito diferentes do que foram nossos pais e avós. Ken Ronbinson diz que a produtora do musical mais visto de todos os tempos (musical Cats) teria sido diagnosticada como tendo TDA na infância se já tivessem descrito o transtorno à época. Felizmente sua mãe a levou a um médico consciente e observador que a aconselhou a colocar a filha em uma escola de dança. Desde então a menina distraída nas aulas passou a se destacar, fez parte das maiores companhias de dança e tornou-se uma produtora de sucesso e multimilionária. Grandes gênios da história foram considerados péssimos alunos (Einstein é um exemplo). Mas se eles foram gênios, onde estava realmente o problema?

Acredita que o otimismo contribua para uma vida melhor?

Certamente. Uma pessoa otimista necessariamente é uma pessoa de fé. Ter fé não significa necessariamente estar vinculada a uma religião, mas sim, acreditar em algo. A fé é o antônimo da dúvida (e não a certeza como muitos pensam) e o otimista é a pessoa que tem fé de que tudo acabará bem, de que todo mal é passageiro e de que ele é capaz de superar. O otimismo é uma força propulsora que nos leva para frente, pois a partir do momento que eu creio, eu não me amedronto, não desisto sem lutar e, por consequência, prossigo em frente.

Jesus disse que a fé transporta montanhas. O otimista, portanto, não vê as situações difíceis como problemas, mas como desafios a serem superados e ele sabe que irá superá-los. O otimista não se frustra com o fracasso das primeiras tentativas, ele se adapta e muda o método, muda sua abordagem até que encontre a fórmula ideal.

Os grandes inventores da humanidade foram pessoas otimistas, pois certamente lidaram com muitos fracassos até obterem o sucesso. Um exemplo de persistência foi Thomas Alva Edison (inventor da lâmpada). Certa vez foi interpelado por seu estagiário que disse que eles haviam falhado 10 mil vezes na obtenção da lâmpada e Thomas Edison lhe respondeu: “Eu não falhei, encontrei 10 mil soluções que não davam certo”. Posteriormente, Edison obteve a lâmpada o que lhe conferiu status de gênio, notoriedade e riqueza. Há inúmeras frases dele que denotam o seu otimismo. Vejam neste link (http://migre.me/3gomK).

Para concluirmos, o que acha que falta ao ser humano para se tornar mais feliz num mundo com tantas transformações. Isto é possível ou uma utopia?

Certamente é possível, se temos fé em um Deus soberanamente justo e bom, não podemos crer que ser feliz seja uma utopia. É claro que no mundo em que nós vivemos hoje, ainda muito imperfeito, só somos capazes de obter uma felicidade relativa. Mas estamos aqui justamente para nos melhorarmos e alcançar a felicidade plena. Creio que o otimismo, discutido na pergunta anterior, é um excelente caminho para alcançar essa tão sonhada felicidade pelo fato de ele agir como força propulsora.

No entanto, não podemos esquecer do respeito ao próximo. Se cada um de nós seguir o mandamento maior de Cristo, de amar ao próximo como a nós mesmos, certamente viveremos em um mundo muito mais pacífico, harmonioso e feliz. Se todos nós passássemos a respeitar o próximo, certamente viveríamos uma era de paz e de felicidade, pois nos ajudaríamos mutuamente.


Nenhum comentário: